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As origens e história do International Congress of History of Science and Technology (ICHST).

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De 29 de junho a 5 de julho, a Universidade de Otago, em Dunedin, Nova Zelândia, sediou o 27º International Congress of History of Science and Technology (ICHST). Cerca de 400 participantes de todas as partes do mundo se reuniram ali presencialmente, acompanhados por outros 500 colegas que participaram remotamente. O ICHST é o maior e mais antigo evento internacional da área, tendo ocorrido pela primeira vez em 1929, em Paris. Durante muito tempo foi chamado de International Congress of History of Science, com a tecnologia sendo incorporada ao título do evento apenas na edição de 2009, realizada em Budapeste. Até o congresso de Edimburgo, em 1977, celebrava-se em intervalos trienais (com um longo

interregno entre 1937 e 1947, devido ao agravamento das condições que levaram à Segunda Guerra Mundial e suas consequências posteriores). Desde então, tem ocorrido a cada quatro anos. Apesar de sua longa história, o congresso havia sido realizado fora da Europa apenas sete vezes até agora, sendo uma única no hemisfério sul: Jerusalém, 1953; Ithaca, EUA, 1962; Tóquio, 1974; Berkeley, 1985; Cidade do México, 2001; Pequim, 2005; e Rio de Janeiro, 2017.

 

As origens do ICHST coincidem com as da Academia Internacional de História da Ciência, que deu seus primeiros passos em 1928, durante o Congresso Internacional de Ciências Históricas em Oslo. Liderado por Aldo Mieli, um grupo de estudiosos hoje lendário — incluindo nomes como Georges Sarton, Charles Singer, Abel Rey, Karl Sudhoff e Henry Sigerist — constituiu um comitê encarregado de organizar o primeiro congresso de história da ciência no ano seguinte, vindo a fundar formalmente a Academia em 1932. Isso ocorreu após o bem-sucedido segundo congresso, realizado em Londres no ano anterior. A edição de Londres também adquiriria fama duradoura, sobretudo pelas animadas discussões provocadas pela tese do pesquisador soviético Boris Hessen sobre “as raízes sociais dos Principia de Newton”, apresentada ali.

 

No pós-guerra, começou-se a desenhar e implementar um novo marco institucional para as relações internacionais. A UNESCO foi fundada ainda no final de 1945 e passou imediatamente a buscar parcerias com federações internacionais já existentes de sociedades científicas e acadêmicas. Um dos principais atores nesse processo foi o International Council of Scientific Unions (ICSU, hoje denominado simplesmente International Science Council), que existia desde 1931. Foram o britânico Joseph Needham, historiador da ciência, e o português Armando Cortesão, historiador da cartografia, que, atuando em nome da UNESCO, intermediaram um acordo entre o ICSU e a Academia, com o objetivo de fundar uma federação de sociedades nacionais de história da ciência que se uniria ao ICSU e operaria sob os auspícios da UNESCO. A própria Academia não podia cumprir esse papel, por ser uma associação de indivíduos, e não de países, mas passou a funcionar como órgão consultivo da recém-criada International Union of History of Science, oficialmente fundada em 1947, e que assumiria a partir de então a (re)organização dos congressos internacionais.

 

Desenvolvimentos paralelos levaram à criação, em 1949, de uma federação semelhante de associações nacionais de filosofia da ciência, a International Union of Philosophy of Science. Em 1956, acordou-se uma fusão entre a união de história da ciência e a mais jovem união de filosofia da ciência, resultando na fundação da International Union of History and Philosophy of Science. As antigas uniões passaram a se chamar Division of History of Science e Division of Logic, Methodology and Philosophy of Science. A primeira incorporou a tecnologia ao seu nome em 2005, passando desde então a ser conhecida como DHST.

 

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Assim, é a DHST que tem organizado o ICHST desde 1947. Para isso, a divisão colabora com as comunidades nacionais que a compõem, atualmente quase 50. O grupo da Nova Zelândia apresentou sua candidatura bem-sucedida para sediar o 27º ICHST durante a Assembleia Geral da DHST que teve lugar durante o congresso anterior, que estava previsto para acontecer em Praga em julho de 2021, mas precisou ser realizado online devido à pandemia de covid.

 

Tendo como tema geral “Peoples, Places, Exchanges, and Circulation”, o ICHST da Nova Zelândia apresentou uma impressionante variedade de trabalhos sobre todos os temas imagináveis em história da ciência e da tecnologia, com destaque para a astronomia e a meteorologia. De fato, a DHST patrocina ou copatrocina (junto a outras uniões internacionais) cerca de 25 comissões dedicadas à pesquisa especializada na história de campos específicos, entre elas a International Commission for the History of Meteorology, a International Commission for the History of Astronomy (com a International Astronomical Union), e a Commission on the History of Ancient and Medieval Astronomy, todas as quais organizaram simpósios durante o ICHST na Nova Zelândia. Além disso, a Scientific Instrument Commission e a Science and Empire Commission também organizaram simpósios com várias apresentações relacionadas à astronomia e meteorologia.


A palestra inaugural do evento foi proferida pela astrônoma Maori Victoria Campbell, em uma bela demonstração da relevância contínua da história da astronomia dentro do campo mais amplo. A conferência de Campbell foi igualmente a primeira de uma série de atividades plenárias que destacaram os saberes dos Maori e de povos do Pacífico em áreas como medicina e meio ambiente. Não há dúvida de que o próximo congresso, que ocorrerá exatamente 100 anos após o primeiro, novamente em Paris, voltará a evidenciar o imenso vigor das comunidades globais de historiadores da astronomia e da meteorologia — e redes como a RILAM terão papel fundamental em garantir uma participação crescente de estudiosos da América Latina.

 


Thomás A. S. Haddad

Universidade de São Paulo

Secretário-Geral da DHST

Membro da RILAM


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